Opinião: Rodrigo Ramos, Rodrigo Marquês e José Melro: O novo perfil de goleador da Liga Revelação. O instinto e perspicácia na procura de zonas de finalização

A Liga Revelação 2023/2024 fez jus ao seu nome e, como tem sido habitual, revelou-nos alguns nomes surpreendentes na presente época. Dentro das estruturas de Sporting, Estoril e Benfica poucos diriam que os seus goleadores seriam Rodrigo Marquês, Rodrigo Ramos e José Melro. Nenhum deles com um perfil físico de “encher o olho” e todos eles fizeram grande parte da sua formação como médios ofensivos, “segundos-avançados” ou extremos mas que se especializaram enquanto homens-golos na equipa de sub-23 mesmo que os terrenos que ocupem não sejam exatamente os da posição “9”. Caso que não é único e que basta recuar uma época atrás para nos lembrarmos que Afonso Rodrigues, extremo do Famalicão, hoje em dia a atuar em Paços de Ferreira, se destacou como máximo goleador desta mesma competição.

Rodrigo Ramos – Estoril

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Comecemos por Rodrigo Ramos, nada mais nada menos do que o recordista de golos numa única edição da Liga Revelação com 23 golos. Muitas vezes utilizado como extremo que aparece por dentro ou até como médio mais ofensivo, destaca-se por ser o máximo goleador desta equipa, fazendo lembrar a versão de “Pote” – Pedro Gonçalves do Sporting na época 2020/2021 que na altura se sagrou máximo goleador da Liga NOS, até pelos terrenos que ocupa e pela forma objetiva como se enquadra com a baliza, conseguindo vários golos a um toque, dando sempre a sensação de que os golos são “fáceis” pela simplicidade dos gestos técnicos. Rodrigo Ramos começou a formação no Benfica tendo saído no escalão de sub-15, aproveitando a oportunidade para se desenvolver no Belenenses onde começou a despoletar a sua veia goleadora apesar de jogar quase sempre como médio ofensivo ou extremo que procura zonas interiores.

Com uma média de 0,85 golos por jogo realizando 3,19 remates à baliza por jogo demonstra uma eficácia acima da média visto que marca acima daquilo que seria esperado (0,49 de expected goals) (Fonte: WyScout).

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Apesar de muitas vezes se posicionar em zonas mais longes da área, como podemos observar, Rodrigo Ramos consegue muitas vezes se posicionar em zonas enquadradas com a baliza, a tal chamada “zona de ouro”, definida por um “retângulo” em frente à baliza, posição a partir da qual, com apenas um toque é possível marcar golo. Apesar de ser um jogador de baixa estatura (cerca de 1,70m) consegue ser exímio pela relação que consegue estabelecer com a baliza.

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Rodrigo Marquês – Sporting

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Passando agora para Rodrigo Marquês. Depois de um início de época atribulado onde não foi opção regular na equipa B (apenas realizou 238 minutos em 10 jogos da Liga 3, contribuindo com uma assistência), passou a ser utilizado na Liga Revelação que, anteriormente tinha jogadores mais jovens na sua posição, mas que por necessidades internas foi chamado e (muito bem!) aproveitou a oportunidade. 9 Golos em 10 Jogos é o jogador desta liga que menos minutos necessita para marcar golo. Dono de um pé esquerdo talentoso e de um forte remate, tem “genes” de jogador de futebol, sendo filho de Sérgio Marquês (antigo jogador do Estrela da Amadora, Olhanense e Mafra) e neto de Valter Onofre (antigo guarda-redes do Sporting e do Braga nas décadas de 70 e 80).

Rodrigo Marquês tem sido utilizado praticamente sempre como ponta-de-lança mas realizou muito tempo da sua formação como extremo ou como médio ofensivo, sendo dessa forma que era visto no início da época quando representava a equipa B.

Apesar de gostar de jogar livre, procurar jogo “entrelinhas” e ter qualidade para entrar em zonas que lhe permite combinar com os colegas, dos 3 jogadores mencionados é aquele que apresenta uma capacidade física mais propensa a aguentar o duelo físico muitas vezes caraterístico desta posição (cerca de 1,80m) conseguindo também segurar a bola e aguentar cargas (disputa cerca de 18,5 duelos por jogo ganhando 40% dos mesmos, contra 15 de Ramos com 40% ganhos e 16 de Melro em que ganha apenas 33%). Uma média de remates baixa (apenas 2,64 remates por jogo) que lhe permitem uma média de 0,9 golos por jogo, demonstrativo da sua eficácia (Fonte:WyScout).

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Apesar do seu posicionamento fora da posição 9 na Liga 3, Rodrigo Marquês adaptou-se eficazmente à posição na Liga Revelação, conseguindo 6 dos 9 golos com remates dentro da área e como podemos ver, utilizando várias vezes zonas enquadradas com a baliza para alvejar o adversário. Tal como Rodrigo Ramos, Rodrigo Marquês faz dos livres diretos outra das suas armas tendo já feito golos desta fora.

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José Melro – Benfica

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Por fim, José Melro com 16 golos em 25 jogos. Talvez o jogador do quadro das “águias” que melhor aproveitou o espaço competitivo da Liga Revelação para ganhar o seu espaço, conseguindo destaque e procurar novas oportunidades. Inicialmente utilizado como suplente, alternava entradas em campo como extremo ou “segundo-avançado” para depois se fixar na posição 9. Jogador de um oportunismo raro no futebol de hoje em dia, parece estar sempre à espera de um deslize ou de uma bola que sobre dentro da área para poder “encostar”.

Dono de um instinto matador acima da média, parece que “a bola vai ter sempre com ele” tal é a inteligência e capacidade do jovem avançado em ler acontecimentos e em se posicionar em zonas escondidas dos defensores adversários, mas que, com um toque consegue fazer golo.

Ao longo da sua formação, José Melro foi procurando os melhores contextos no distrito de Santarém para evoluir como jogador até que chegou ao plantel sénior do União de Santarém onde desde muito novo, começou a treinar com a equipa principal do clube que disputava o Campeonato de Portugal e a Liga 3. Este constante desafio e estímulo desenvolveu em José Melro um instinto e uma rapidez de raciocínio que lhe tem valido uma capacidade notória de se especializar em movimentos dentro da área apesar de estar longe de ser um jogador possante fisicamente (cerca de 1,78m), conseguindo, em apenas 2,34 remates por jogo, uma média de 0,78 golos contra um valor esperado de apenas 0,43 (Fonte: WyScout).

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José Melro é mais um caso de jogador que apesar de ocupar zonas, por vezes longe do habitat natural do “9” consegue ser exímio no momento de procurar as zonas para finalização como podemos ver no mapa seguinte onde marcou 15 dos 16 golos dentro da área (!) fazendo dele um jogador especialista nesta zona do campo.

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O 9 “puro”: Miro – Gil Vicente

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Apesar de ser um jogador totalmente diferente dos mencionados, não seria justo da minha parte abordar os goleadores da Liga Revelação e não falar de Miro, este sim, um “9” puro, jogador possante fisicamente (1,84m) que já se estreou na equipa principal. Com 15 golos na Liga Revelação é um jogador muito disponível para os duelos (23 duelos por jogo, significativamente acima dos 18, 15 e 16 de Marquês, Ramos e Melro, segundo WyScout) e com um nível de eficácia mais baixo (necessita de realizar 3,45 remates por jogo para ter uma média de 0,72 golos por jogo contra 0,68 esperados) (Fonte: WyScout).

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Como podemos ver é um jogador que ocupa muito mais zonas de ponta-de-lança, fazendo naturalmente os golos nas zonas mais próximas da baliza.

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