Opinião: Contratar mais por menos ou menos por mais? O que o título do Sporting nos ensina sobre a forma de atuar no mercado

Certo dia, numa conversa com um agente de jogadores, coloquei a seguinte questão: na preparação de uma nova temporada, uma equipa deve contratar vários futebolistas de um preço reduzido, ou menos jogadores mas de um preço mais elevado? Ele respondeu, sem hesitar, que prefere ver um clube distribuir o seu orçamento para transferências por diferentes reforços, em vez de apostar tudo em dois ou três mais caros.

Desta forma, se contratar vários futebolistas por pouco dinheiro cada um, o clube corre menos riscos, sendo que há a possibilidade de algum dar certo. “Se apostar as fichas todas em dois ou três e estes falharem, foi muito dinheiro deitado ao lixo”, defendeu. No entanto, eu penso totalmente o oposto. E o Sporting, consagrado novo campeão nacional neste domingo, é um dos maiores exemplos com os quais se pode refutar essa ideia.

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No último mercado de verão, os leões limitaram-se a fazer três contratações: Viktor Gyökeres, Morten Hjulmand e Iván Fresneda. Um trio que, no total, custou quase 50 milhões de euros, sendo que o sueco e o dinamarquês, como bem sabemos, se revelaram absolutamente preponderantes na conquista do campeonato, saltando diretamente para o onze titular leonino logo no início da temporada.

A estes, há que juntar Geny Catamo e Eduardo Quaresma, que tinham sido emprestados na temporada transata, e Daniel Bragança, que não somou um único minuto oficial em 2022/23 por conta de problemas físicos. Os três reforçaram o plantel leonino e desempenharam papéis fundamentais – cada um à sua maneira – na conquista do 20.º título da história dos leões, mas não foram contratados pelo Sporting esta época, pelo que não entram nesta equação.

Ora, esta forma de atuar no mercado, mais cirúrgica e ponderada, contrasta com aquilo que o Sporting tinha feito um ano antes, num verão no qual contratou sete jogadores. No entanto, uma boa parte deles teve pouco ou nenhum efeito positivo na equipa, como foram os casos de Rochinha, Arthur Gomes ou Sotiris Alexandropoulos. E isto para não falar de Héctor Bellerín e Mateo Tanlongo, que chegaram a Alvalade no mercado de inverno. Não é por acaso que nenhum deles ficou no plantel escolhido por Rúben Amorim para 2023/24, depois de uma temporada desastrosa, que culminou sem a conquista de títulos e num penoso quarto lugar no campeonato.

Claro que, agora, é mais fácil falar. Se Gyokeres e Hjulmand tivessem fracassado – ou se, pelo menos, não tivessem tido o impacto que tiveram no Sporting -, criticar-se-ia o avultado investimento que obrigaram o clube a realizar nas suas transferências. Mas não foi isso que aconteceu, o que, por sua vez, não foi obra do acaso: nota-se, pela forma como Amorim trabalhou este Sporting, que o avançado e o médio foram contratados para corresponderem a uma ideia de jogo, a uma forma de jogar específica.

Por outras palavras, para encaixarem no perfil idealizado pelo treinador, ao invés de chegarem para fazer número, como aconteceu noutras ocasiões, com outros jogadores que pouco ou nada acrescentaram. Foram, por isso, escolhidos a dedo pelo técnico verde e branco. A certa altura, pela insistência que o Sporting demonstrou nas suas contratações, deu inclusive a sensação de que ou vinham Gyokeres e Hjulmand, ou não valia a pena vir mais ninguém. Provavelmente, mais um exemplo da já conhecida teimosia de Amorim, que adotou uma postura semelhante, por exemplo, na hora de fazer chegar Paulinho a Alvalade. Desta vez, contudo, com resultados ainda mais positivos.

Por isso, e voltando à conversa que tive com o tal agente que referi, não tenho dúvidas: se tivesse um orçamento que me possibilitasse optar entre contratar muitos jogadores mais baratos, ou poucos, ainda que mais caros, mas com provas dadas, escolheria a segunda opção. Sempre.

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