Opinião/Alexandre Costa: De Neverkusen a Neverlusen – Os pilares do sucesso do campeão da Bundesliga

Quando Xabi Alonso assumiu o comando do Bayer Leverkusen, em outubro de 2022, poucos imaginavam que se estaria prestes a escrever uma página histórica no futebol alemão. O Bayer, múltiplas vezes vice-campeão, um dos maiores clubes da Alemanha – que até disputou uma final da Champions neste milénio –, consagrou-se pela primeira vez campeão alemão. Isto trouxe inevitável curiosidade sobre os processos da equipa que, contra todas as expectativas, levou de vencido o inevitável Bayern Munique.

A equipa de Alonso parte de um 3-4-3, em que os laterais são profundos (Frimpong e Grimaldo), e os extremos são frequentemente jogadores de ligação (Wirtz e Hoffman). A forma como defende depende do adversário, mas varia muitas vezes entre o 5-4-1, o 5-2-3, ou até num 5-3-2.

Talvez seja este, aliás, um dos princípios mais relevantes no esquema de Xabi Alonso: a flexibilidade. Rigidez, aliás, quase só num par de princípios de base, como as trocas posicionais e a ocupação racional do espaço no último terço, a progressão rápida da bola (sem perder qualidade na ligação), que se junta a uma forma de jogar associativa nas zonas vitais, com muita gente perto da bola, e um jogo que privilegia transições defensivas agressivas, tirando partido da grande quantidade de jogadores no centro do jogo.

Mantendo estes pilares bem firmes, foi por diversas vezes que a equipa de Xabi Alonso partiu do 3-4-3 para estruturas diferentes a atacar e a defender, em função dos intérpretes (a equipa rodou de forma muito frequente na Europa, por exemplo) e dos adversários.

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O Bayer Leverkusen constrói tipicamente num 3-4-2-1, com os laterais bem à largura e dois extremos como referências interiores na zona média. O posicionamento dos médios traz consigo referências de marcação, o dos laterais alarga o posicionamento do bloco defensivo adversário, e isto abre espaço para a ligação aos extremos. Ainda que a ação dos laterais seja fundamental, com destaque para Grimaldo, que aparece frequentemente também por dentro, estes beneficiam muitas vezes de uma primeira ligação aos extremos, atraindo o adversário e abrindo espaços por fora.

Um dos factores mais relevantes é a colocação de um grande número de jogadores no centro do jogo, o que é especialmente frequente no corredor esquerdo, criando superioridade numérica. Nessas alturas, é Frimpong quem quase sempre se mantém aberto do lado contrário, dando a possibilidade da variação.

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Construção a 3 e um “quadrado” com médios e extremos

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Em criação, grande concentração de jogadores pela esquerda – Frimpong aberto do lado contrário

Defensivamente, o mais comum é a equipa posicionar-se num 5-4-1, com os centrais a terem referências individuais. A pressão a três (extremos e avançado) ou a dois (com avançado e um dos extremos, ou com os dois extremos) permite que a equipa encaixe de forma direta no adversário, promovendo duelos a todo o campo e responsabilização individual.

Ainda que a equipa demonstre uma notória capacidade de pressionar alto a todo o campo, parece ter algumas dificuldades contra equipas mais verticais, com referências para passe vertical, capazes de ganhar primeiras e segundas bolas. Quando se posiciona, a defender num bloco mais alto, num 5-2-3 ou num 5-3-2, fica também mais difícil acompanhar as marcações individuais que se arrastam por todo o campo, e que por vezes abrem espaços em zonas vitais do terreno.

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A pressionar alto a construção adversária, em 5-2-3 (referências individuais)

Duas das peças mais importantes são mesmo Granit Xhaka e Ezequiel Palacios, ambos a realizar grandes épocas, e preenchendo os requisitos dos médios num meio-campo a dois – em especial, numa equipa com esta capacidade de pressão. São ambos fortes nos duelos, complementam-se bem no binómio rotura/ataque ao espaço e equilíbrio, conhecendo bem os timings de equilibrar a equipa. Xhaka é um jogador de progressão e de passe de rotura, e Palacios é um jogador com abrangência de espaços notória, juntando-lhe noção espacial e capacidade nos duelos.

Ainda que a cobiça de Alonso seja notícia em todos os cantos do mundo, o treinador espanhol já anunciou que se manterá ao leme do Bayer Leverkusen. Isto trará curiosidade reforçada em relação ao crescimento da equipa no próximo ano, frente a um Bayern certamente reforçado, e agora com uma Champions League para disputar.

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